segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Naquele momento até as sombras tinham a capacidade de me assustar. Era uma rua tão vazia, tão ao som de vento e apenas vento. O clima estava me congelando, aquele vento que me servia de companhia estava fazendo com que meus dedos ficassem imóveis juntamente com minhas pernas. A armadilha perfeita para um sequestro ou um assalto. Sombras são avisos da solidão - sentia que tanto tempo sozinha não estava me fazendo bem. Novamente aquela dor, embora acordada, o frio dava a sensação de uma demora com ainda mais intensidade. Olhei para um lado e para o outro, não havia nada - absolutamente nada. As árvores se moviam, a neve caia e o vento uivava. Olhei para trás e também não havia companhia alguma. Me passava pela cabeça o que aconteceria se dessa vez a dor fosse mais forte e eu caísse sem força para levantar, provavelmente congelaria segundos depois. Era tudo tão sombrio que me arrepiava, fiquei contente ao me aproximar de casa e ver as luzes acesas, lá eu estava mais segura ou menos sozinha.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Não queria, desde o começo eu não quis. Desde que senti que ia cair, e me quebrar inteira na queda para depois restar incompleta, destruida.Talvez, as mãos desertas, o corpo lasso. Fugi. Eu não buscaria porque conhecia a queda, porque já caíra muitas vezes, e em cada vez restara mais morta, mais indefinida - e seria preciso reestruturar verdades, seria preciso ir construindo tudo aos poucos, eu temia que meus instrumentos se revelassem precários, e que nada eu pudesse fazer além de ceder. Mas no meio da fuga, você aconteceu. Foi você, não eu, quem buscou. Mas o dilaceramento foi só meu, como só meu foi o desespero. Que espécie de coisa o cigarro queimou, além dos cabelos? Sei que foi mais fundo, mais dentro, que nessa ignorada dimensão rompeu alguma coisa que estava em marcha. Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse ao meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado, sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu. A noite ultrapassou a si mesma, encontrou a madrugada, se desfez em manhã, em dia claro, em tarde verde, em anoitecer e em noite outra vez. Fiquei. Você sabe que eu fiquei. E que ficaria até o fim, até o fundo. Que aceitei a queda, que aceitei a morte. Que nessa aceitação, caí. Que nessa queda, morri. Tenho me carregado tão perdida e pesada pelos dias afora.

O invetário do ir-remediável - Caio Fernando de Abreu.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Estou tão sem saber o que fazer, que chego a me sentir vazia. Teoricamente, o certo seria eu desencanar, de novo, e tocar a minha vida, mas o que eu posso fazer, se você é sempre tão presente nela? Eu tento fugir, mas quanto mais eu tento te esquecer, mais eu lembro.